“Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” retorna ao cinema após 30 anos
Por MRNews
Marco da retomada do cinema brasileiro nos anos 1990, o filme Carlota Joaquina, Princesa do Brazil voltou às salas de cinema do país neste fim de semana, 30 anos após seu lançamento oficial, em 1995. A versão remasterizada, em 4K, estreou na quinta-feira (14) em Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Niterói, Porto Alegre, Belém e São Luiz.
A obra se passa entre o fim do Século 18 e o início do Século 19 e conta a história da menina espanhola que, aos 10 anos de idade, é prometida a João, príncipe de Portugal, coroado D. João VI após o agravamento da saúde de sua mãe e a morte do irmão que estava à sua frente na linha de sucessão.
A icônica personagem chega ao Brasil com a Família Real de Portugal, em meio às turbulências provocadas pela Revolução Francesa e pelas ameaças de invasão napoleônica, que levam a Corte Portuguesa a realizar uma fuga histórica e silenciosa para sua principal colônia, estabelecendo a capital do império no Rio de Janeiro e mudando para sempre a história dos dois países.
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Na trama, a jovem princesa é vivida na infância por Ludmila Dayer. Marieta Severo interpreta Carlota Joaquina na vida adulta, e o elenco conta ainda com grandes nomes como Marco Nanini, como Dom João VI; Marcos Palmeira, como Dom Pedro I; e Vera Holtz, como Maria Luísa de Parma.
O sucesso foi grande, e o longa permaneceu por quase um ano nas salas de cinema do país, chegando a 1 milhão de espectadores. A obra marcou a estreia da diretora Carla Camurati, que também assina o roteiro ao lado de Melanie Dimantas.
Em entrevista à Agência Brasil, a cineasta comemora que a remasterização volta às salas de cinema no momento em que a produção nacional está em sua fase mais potente.
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Confira os principais trechos da entrevista
Agência Brasil: Você é uma das diretoras que fez parte da retomada do cinema brasileiro, há 30 anos, com o seu primeiro longa. O relançamento, no ano que o Brasil ganha um Oscar e comemora uma produção mais robusta, tem um gosto especial?
Carla Camurati: Ah, é muito bom, né? Porque você percebe que um movimento que começou há 30 anos floresceu lindamente. O cinema brasileiro, hoje, produz coisas incríveis. Ainda estou aqui foi um presente, assim como Homem com H e Manas. O cinema brasileiro nunca esteve em uma fase tão potente, e presenciar isso 30 anos depois do lançamento do Carlota, me deixa muito feliz.
Agência Brasil: O filme continua atual e pode chegar nas novas gerações. Qual é a importância de isso acontecer nas salas de cinema?
Carla Camurati: Ah, está sendo bárbaro, né? É muito interessante você ver o filme ser projetado com uma qualidade incrível. A restauração de som e imagem do Carlota foi muito importante, era uma coisa que eu queria muito, e que a Petrobrás, grande parceira desde o princípio do filme, [proporcionou]. O importante de o filme estar em uma tela de cinema é a linguagem que você estabelece na proporção das telas. Tem uma dramaturgia de imagens em que influencia o tamanho da tela em que você está trabalhando. Quando você trabalha em uma tela menor, como televisão e smartfone, sua a relação com a imagem, a dramaturgia de imagem que você tem, é diferente de quando você trabalha numa tela de cinema. Sem falar que a experiência do cinema é mais concentrada, ela é muito especial, porque você fica assistindo a um filme coletivamente, todo mundo em silêncio, naquela sala escura, sabe? E é engraçado, porque acaba que a plateia em si se comunica nas suas expressões, nos seus risos, nos comentários.
Agência Brasil: O Carlota Joaquina já passou em escolas e se tornou referência da história do país e também é considerado um dos filmes mais importantes do nosso cinema. Retornar às salas de cinema, no momento atual, comprova a relevância. O que você diria sobre este momento? Imaginava que teria essa atemporalidade?
Carla Camurati: Como o filme tem um recorte da nossa história, de 1808 [chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil], ele não envelhece. De alguma maneira, ele está preso há um passado mais distante do que 30 anos, aliás, bem mais. Então, eu acho que a sala de cinema é o espaço dos filmes, o primeiro espaço. Depois, é claro, ter no streaming é maravilhoso. Mas o que está acontecendo é que a gente está perdendo a janela de cinema, porque o tempo está cada vez menor no streaming. Eu acho que tem filmes que mereceriam ter mais tempo na de cinema ao invés de imediatamente partir para o streaming.
Agência Brasil: O elenco e sua equipe estiveram na pré-estreia, aqui no Rio, e se emocionaram novamente. Quais são as impressões que tiveram e como foi ouvir os depoimentos?
Carla Camurati: Ah, foi engraçado, foi muito bom. Primeiro, porque os atores se surpreenderam nesses 30 anos. Como ninguém ficou vendo o filme, em 30 anos, foi muito bom. A Marieta [Severo] estava muito feliz de ter visto e de ter lembrado de coisas que ela já tinha esquecido, e que, hoje, com a cópia remasterizada, o filme está lindo. [Marco] Nanini também amou ver. Teve uma coisa de surpresa. Até a Melanie [Dimantas], que escreveu o roteiro comigo, disse: “Carla, como o filme está bárbaro, está ótimo”. Até algumas questões que, na época, a gente escreveu e que eu tinha alguma dúvida, hoje, quando eu olho, elas estão ótimas, perfeitas. Então, foi muito legal.
Agência Brasil: A dificuldade em produzir um filme há 30 anos mudou no país?
Carla Camurati: Mudou muito. Você tem uma série de relações que, na época do Carlota, a gente não tinha. A gente não tinha nada. O Carlota Joaquina ganhou um prêmio da Finep de roteiro, de R$ 100 mil, e, depois, os outros R$ 400 mil conseguimos diretamente com os departamentos de marketing das empresas. E era tudo picadinho, então, você tinha uma dificuldade nesse sentido. A nossa sorte é que a Bianca de Fellipes, que fazia produção de teatro, tinha muitos contatos. Então, se você olhar a barra de apoios do Carlota Joaquina é uma loucura. A gente tinha apoio para tudo e foi essa mistura que fez o filme acontecer.
Agência Brasil: Quais são as suas expectativas em relação ao relançamento?
Carla Camurati: Desejo que o público aproveite esse momento do cinema para rever. E, principalmente, quem nunca viu, porque eu acho que o filme tem uma linguagem muito especial e muito diferente da estratégia de imagem que existe hoje no cinema. Ele é um filme cuja narrativa consegue misturar fantasia e fatos históricos com uma linguagem muito brasileira. O bom dele é justamente a mistura que o filme tem.